Longevidade & Qualidade de Vida #3

A atividade física é um dos principais investimentos que uma pessoa pode fazer ao longo da vida para um ‘envelhecimento bem-sucedido’

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Dentro da comparação dos dois idosos, um ativo e o outro sedentário, que viemos analisando desde a parte anterior do artigo, já é possível observar que  o “envelhecer” é uma condição intrínseca à natureza humana, contudo, a maneira como este processo ocorre individualmente pode variar muito, conforme múltiplos  fatores, sejam eles internos (fisiológicos), externos (ambientais), psicológicos, sociais, comportamentais, entre outros.

Assim sendo, não há um fator específico que possa determinar um “envelhecimento bem-sucedido”. Deve-se levar em consideração os aspectos que vão além do retrato momentâneo dos dois indivíduos nesta fase da vida.

O fato é que, a soma das escolhas e atitudes de cada um ao longo do tempo, foram determinantes para as condições atuais, ou seja, o que vemos hoje são as consequências de hábitos e situações que os trouxeram ao quadro atual. Guardadas as devidas diferenciações inerentes da individualidade biológica (assim como não há duas impressões digitais idênticas), ao analisarmos as duas condições de capacidades físicas, à luz da fisiologia: eles não são diferentes; estão diferentes!

Pois, em outra perspectiva, antes de pensar no que eles podem fazer hoje, em suas atuais condições físicas, deve-se levar em consideração, o que fizeram (ou deixaram de fazer), que permitiu um quadro atual comparativo tão distinto entre as duas respectivas condições…

Observando esta premissa, as principais organizações de saúde no mundo em consonância, preconizam em suas diretrizes a adoção de hábitos saudáveis como medida de fundamental importância, tanto no tratamento como na prevenção de doenças crônicas que afetam em larga escala os idosos no mundo todo, aumentam cada vez mais a taxa de mortalidade desta população de maneira precoce, e reduzem significativamente sua produtividade e qualidade de vida. Aí está portanto, uma das chaves que diferenciam as condições do envelhecimento.

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A atividade física hoje, é apontada como um dos principais investimentos que uma pessoa pode fazer ao longo da vida em favor do que os cientistas da nova gerontologia chamam de envelhecimento bem-sucedido. Este conceito contempla aspectos que vão além das áreas de doenças relacionadas à idade e sua prevenção, pois exige a manutenção de uma função fisiológica e de uma aptidão física aprimoradas.

Há na produção científica ao longo dos anos, fortes evidências na direção de que grande parte da deterioração fisiológica considerada como envelhecimento normal consequente do estilo de vida e das influências ambientais, são alteráveis, e podem ser sujeitas a modificações significativas por meio de uma dieta apropriada, atividade física e, principalmente pela prática de exercício físico, sendo então caracterizado por uma atividade física planejada, estruturada, repetitiva e intencional.

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Diferentemente do que se acreditava antes, nota-se um fenômeno particularmente interessante, inclusive, ao verificarmos a literatura científica presente relativamente a associação entre estilo de vida e envelhecimento, pois observa-se um alto potencial de treinabilidade entre homens e mulheres mais velhos. São encontradas adaptações positivas no músculo esquelético em relação ao tamanho das fibras, no metabolismo dos substratos, nas enzimas glicolíticas e respiratórias, e na fisiologia cardiovascular de indivíduos mais velhos semelhantes àquelas observadas nos indivíduos mais jovens, quando submetidos ao treinamento de endurance, por exemplo.

Isto significa que a atividade física direcionada na forma de exercício físico e inserida num programa específico de treinamento é capaz de aprimorar as respostas fisiológicas e promover modificações positivas na aptidão física independentemente do sexo e da idade.

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No entanto, elaborar um programa de treinamento físico adequado para o idoso, assim como, para cada qual individualidade biológica, requer o uso de variadas estratégias, tanto no pré-exercício, mediante a avaliações médicas e fisiológicas para a identificação de características individuais e possíveis limitações e/ou patologias, como também no acompanhamento e ajustes contínuos ao curso do treinamento, devido às adaptações e aos aprimoramentos induzidos pelo próprio treinamento.

Não obstante, assim como é comum em todas as populações, há uma grande diversidade entre a população idosa, o que funciona para um indivíduo pode não funcionar para o outro, assim sendo, não se reconhece a existência de um único melhor programa de treinamento físico para o idoso. O que é proposto pela literatura científica atual, são recomendações.

Portanto, é primordial que a laboração de um programa de treinamento físico individualizado e especifico deve ser prescrito por um profissional capacitado para tal.

Ainda assim, a adoção de hábitos saudáveis não é tão simples como parece. Com o envelhecimento, todos os adultos devem enfrentar algumas ou todas as perdas acumulativas que ocorrem como consequência natural de uma vida mais longa: a diminuição da capacidade física, as mortes de cônjuge, parentes e amigos, aposentadoria e mudança no papel social, e eventualmente, mudanças nas disposições físicas de sua vida. São perdas significativas que representam graves desafios ao controle emocional.

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Com isso, a relação entre atividade física e função emocional, torna-se muito complexa e extremamente difícil de ser estudada por causa de muitos fatores complicadores coligados. Um dos problemas encontrados na compreensão da relação da atividade física com a função emocional dos idosos é a escassa produção de literatura científica com estudos desses parâmetros específicos.

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O que temos, irrefutavelmente, são relevantes evidências  de que o aspecto comportamental tem fundamental influência qualitativa no processo do envelhecimento. Denota-se, portanto, um vasto campo para novos estudos neste sentido!

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“A juventude não é apenas um período da vida… é um estado mental. Não é somente feita de bochechas rosadas, lábios vermelhos ou joelhos ágeis. É uma disposição da vontade da imaginação, um vigor das emoções. 

Ninguém envelhece meramente por viver um número de anos. As pessoas envelhecem apenas ao abandonar seus ideais. 

Você é tão jovem quanto sua autoconfiança, tão velho quanto seus medos, tão jovem quanto sua esperança, tão velho quanto seu desespero. 

No fundo de cada coração, há uma câmara de memórias; enquanto ele receber mensagens de beleza, esperança, alegria e coragem… você será jovem. 

Quando todas essas mensagens tiverem cessado e seu coração estiver coberto pelas neves do pessimismo e pelo gelo do cinismo, aí então, e somente então, você terá envelhecido.” 

Citação anônima enviada para um filho. De sua mãe, com 73 anos de  juventude.

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Te vejo no próximo artigo!

Até lá…

Um BIG abraço!

Marcus Vinicius

Referências:

AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE

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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS)

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U.S. DEPARTMENT OF HEALTH  HUMAN SERVICES

4 Comentários

  1. Osvaldo de Almeida Junior

    Muito bom, encorajador, desperta, ajuda e muito bem escrito. Parabéns que tenhas sucesso, pois merece.

    Um previlegio ler seus artigos.

    • Marcus Vinicius

      Muito obrigado!

      MV

  2. Meu prezado Marquito:
    Mais uma excelente postagem, desta feita voltada para o caminho, o roteiro, digamos assim, para uma longevidade saudável e feliz.
    E como ficamos nós – eu e tantos outros – que recém adentramos a casa dos 60 anos e não atentamos para esses ensinamentos básicos e elementares de que “A atividade física hoje, é apontada como um dos principais investimentos que uma pessoa pode fazer ao longo da vida em favor do que os cientistas da nova gerontologia chamam de envelhecimento bem-sucedido”?
    Infelizmente, muitos de nós se envolveram de tal forma na batalha desumana do dia-a-dia que não atentaram para o fato de que a vida é breve, passa rápido e o tempo perdido, sem a incorporação de hábitos saudáveis e atividades físicas, certamente cobrará o seu preço em nossas velhices.
    A resposta a essa indagação de fato é óbvia:
    De acordo com o gráfico acima, aqui chegamos – não todos, mas ao menos eu -, contando apenas e unicamente com a confiança depositada nos 17% da Genética, somados aos 20% do Meio Ambiente, já que por conta da crise financeira deixamos de contar com convênios de saúde privados e, por isso mesmo, sequer nos foi possível contar com os 10% de uma Assistência Médica adequada!
    Resta-nos, pois, adotar enquanto houver tempo, um programa de atividade física direcionada aos idosos, de modo a tentar, na medida do possível, aumentar os 53% do peso relativo ao Estilo de Vida que nos trouxe até aqui, não é mesmo?!
    Excelente artigo e mais uma vez o meu agradecimento pelas dicas!

    • Marcus Vinicius

      Vitão, meu caro, é sempre uma satisfação ler um feedback seu!
      As informações estão abertas, pra quem quiser, e felizmente os avanços da ciência nos trouxeram benefícios em relação ao conhecimento na área da saúde e longevidade.
      Em contrapartida, você tem razão, a real situação em nosso país não abarca todas as demandas da população, seja no âmbito da saúde pública ou privada.
      Aliás, este também é um dos fatores que pesam nos cofres públicos, e impedem que o país avance em questões básicas, o que é lamentável.
      O desejável seria, não somente aumentar investimento e direcionamento adequado de recursos para a saúde, mas principalmente a implantação de um projeto de PREVENÇÃO, aí teríamos então um real investimento para a saúde e uma futura desoneração dos cofres públicos. O que vemos também é a falta de instrução e informação para a população, sobre estas questões básicas de saúde.
      Mas vamos buscar sempre o melhor, dentro do que temos ao nosso alcance, e como você bem observou: enquanto houver tempo sempre podemos fazer algo pra melhorar as condições atuais!

      Muito obrigado pelo rico comentário, meu Amigo!

      MV

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